Amou como se fosse a última vez.
Beijou sua mulher como se fosse
a última.
E cada filho seu como se fosse o único.
E atravessou a rua com seu
passo tímido.
Subiu a construção como se fosse máquina.
Ergueu no patamar
quatro paredes sólidas, tijolo com tijolo num desenho mágico.
Seus olhos
embotados de cimento e lágrima, sentou pra descansar como se fosse sábado.
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe. Bebeu e soluçou como se fosse
um náufrago.
Dançou e gargalhou como se ouvisse música.
E tropeçou no céu como
se fosse um bêbado e flutuou no ar como se fosse um pássaro.
E se acabou no
chão feito um pacote flácido.
Agonizou no meio do passeio público.
Morreu na
contramão atrapalhando o tráfego.
Chico Buarque
0 comentários:
Postar um comentário