Sábado.
Tristeza. Solidão. Tudo isso fez nascer este texto.
O
inferno não tem cheiro de enxofre.
O
céu já me mostrou demônios.
Perdões
e pecados, juntos, como espírito e carne, caminhando lado a lado na trilha do
meu purgatório onde os gritos de tormenta são teus sussurros que me gritam
incertezas e talvez.
O
paraíso como ilha deserta, tranquila, sem coral e sem perdição. O avesso é o
lado de cá, inflamável e masoquista.
A
paz também enlouquece os solitários, mesmo aqueles que já venceram a guerra das
bocas e erguem a bandeira branca manchada de sangue e vitória como papel e
lápis. A companhia das letras é veneno bom para tomar aos poucos.
Aos
bocados, ela seca e desentope as artérias do que deve explodir dentro da gente.
Não
sei e nem quero ir para o céu todos os dias, porque sou feito de metades.
A
linha que separa os meus desejos é o medo que se alimenta das pedras de todas
as fortalezas que construí na vida. Medo que me impede de ser salvo e morar na
ilha, medo que impede que tais paredes me isolem das tragédias e do inferno que
preciso para sobreviver.
O
sofrimento que respiro é o oxigênio filtrado. Sem ele a poeira invadiria meus
pensamentos e a pureza do meu pulmão ilhado seria expelida como um espirro.
É
esse inferno que eu preciso.
Esse
olho vazado, esses pés rachados, esse coração crescido.
O
lixo, a doença, a operação tão arriscada que nenhum cirurgião conseguiria
realizar, esse tumor que inflama no meu cérebro ferido.
Os
ossos espalhados pelo chão, a dor, a alma despejada aos pedaços como corpo
leproso, as vísceras virando comida de abutres cegos, os apedrejamentos em
praça pública, os rios de melancolia que escorrem mau cheirosos pelos córregos
e esgotos a céu aberto são apenas os meus dias ruins.
Meus
dramas e meu inferno.
Ai
do Demônio se eu não tivesse sede de ser feliz.
Ai
dos anjos se eu fosse o Deus do meu corpo.
Ai
do mundo se eu não tivesse medo, ai de mim se a vida não me perdoasse.
Eu
só não me arrependo de morar no purgatório porque o teu amor também tem mania
de ficar em cima do muro.
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