Apoio que as pessoas se manifestem publicamente contra a
violência urbana, contra os altos impostos que não são revertidos em benefícios
sociais, contra a corrupção, contra a injustiça, contra o descaso com o meio
ambiente, enfim, contra tudo o que prejudica o desenvolvimento da sociedade e o
bem-estar pessoal de cada um. No entanto, tenho dificuldade de entender a
mobilização, geralmente furiosa, contra escolhas particulares que não afetam em
nada a vida de ninguém, a não ser aos diretamente envolvidos, caso da
legalização do casamento gay, que acaba de ser aprovado na Argentina. Se dois
homens ou duas mulheres desejam viver amparados por todos os direitos civis que
um casal hétero dispõe, em que isso atrapalha a minha vida ou a sua? Estarão
eles matando, roubando, praticando algum crime? No caso de poderem adotar
crianças, seria mais saudável elas serem criadas em orfanatos do que num lar
afetivo? Ou será que se está temendo que a legalização seja um estímulo para os
indecisos? Ora, a homossexualidade faz parte da natureza humana, não é um
passatempo, um modismo. É um fato: algumas pessoas se sentem atraídas - e se
apaixonam - por parceiros do mesmo sexo. Acontece desde que o mundo é mundo. E
se por acaso um filho ou neto nosso tiver essa mesma inclinação, é preferível
que ele cresça numa sociedade que não o estigmatize. Ou é lenda que queremos o
melhor para nossos filhos? No entanto, o que a mim parece lógico, não passa de
um pântano para grande parcela da sociedade, principalmente para os católicos
praticantes. Entendo e respeito o incômodo que sentem com a situação, que é
contrária às diretrizes do Senhor, mas na minha santa inocência, ainda acredito
que religião deveria servir apenas para promover o amor e a paz de espírito. Se
for para promover a culpa e decretar que quem é diferente deve arder no fogo do
inferno, então que conforto é esse que a religião promete? Não quero a vida
eterna ao custo de subjugar quem nunca me fez mal. Prefiro vida com prazo
delimitado, porém vivida em harmonia. Sei que sou uma desastrada em tocar num
assunto que deixa meio mundo alterado. Daqui a cinco minutos minha caixa de
e-mails estará lotada de agressões, mas me concedam o direito ao idealismo, que
estou tentando transmitir com a maior doçura possível: não há nada que faça com
que a homossexualidade desapareça como um passe de mágica, ela é inerente a
diversos seres humanos e um dia será aceita sem tanto conflito. Só por cima do
seu cadáver? Será por cima do cadáver de todos nós, tenha certeza. Claro que
ninguém precisa ser conivente com o que lhe choca, mas é mais produtivo
batalhar pela erradicação do que torna nossa vida ruim, do que se sentir
ameaçado por um preconceito, que é algo tão abstrato. Pode rir, mas às vezes
acho que acredito mais em Deus do que muito cristão.
Informação geral.
Grato: Welder Campos Rodrigues.
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