- Ana, minha rosa...
- O que é que te tira o sono dessa vez, José?
- Não sei, minha querida, já faz alguns dias que
ando assim, a encarar o teto sem cor da noite, abrindo e fechando os olhos sem
ter porque.
Ana silenciosamente virou-se na direção do marido,
levantou a cabeça a fim de enxergar algo em seu rosto com a luz amena que vinha
da rua, mas nada pode ver. Deitou-se novamente e ficou a encarar o teto sem cor
da noite.
- Ana?
- Não te entendo José... Essas tuas rugas parecem
não condizer com o teu coração. Coração jovem, parece que tão pouco sabe da
vida.
- Agora eu que não entendo o que dizes meu amor. Eu
amo as tuas rugas, nunca reclamei delas uma vez se quer!
- Pare de bobagem, velho querido. Tem tristeza no
teu coração, dá pra sentir.
- Ana, como podes me conhecer tão bem assim? Mal eu
sei porque essa maldita tristeza afoga meu peito.
- Venha cá, meu amor.
E José foi, esquecendo-se do breu que cobria o
quarto e tentava esconder aquelas três ou cinco lágrimas que escorriam, e
afogou-se no peito de sua eterna Ana.
A dor do tempo bateu em sua porta, as angústias de
um devaneio qualquer lhe atormentou e deixou o homem de rugas nem tão sábias
assim perdido em seu próprio sentido.
Ana não sabia muito bem o que aquelas gotas que
caiam em seu braço significavam e passou aquela noite sem dormir, escutando o
seu velho respirar de forma nervosa, sem saber ao menos o que pensar. Ficou com
medo e suas rugas, assim como de seu amado, exalavam também as preocupações
tolas daquela noite, daquela vida.
Dedico este texto aos meus avós maternos, Ana Rosa Campos e José Dias Campos.
0 comentários:
Postar um comentário