Capturar
o momento exato do impacto, o creck do gatilho e no segundo seguinte o barulho
seco do disparo, certeiro, sem lastima nem perdão.
A
bala atinge direto o seu peito, sem nenhuma chance de retorno ou
arrependimento. Você se vira pra trás procurando entender tudo o que escapou,
seus planos, projetos, se apoia com uma das mãos no encosto do sofá, olha bem
ao redor e enquanto a vida passa na sua cabeça como um filme ao contrário, você
pensa que aquela sala tão familiar se tornou secretamente uma lembrança. O
quarto dele, os olhos dele, aquelas mãos, as mesmas mãos que apertaram o
gatilho, a velha foto da Gaga na parede com recortes de revistas, tantos sorrisos milhares de cenas
inesquecíveis, seu coração, tudo aquilo vai se empilhando nas suas costas e
estranhamente se incorporando ao seu corpo.
Você
vai se transformando em um monstro intergalático, um ser estranho, um depósito
de coisas inúteis, sem nenhuma serventia e percebe que não pertence mais àquele
lugar.
É
hora de partir e levar consigo toda a vida, toda a sua dor.
Você
olha no espelho, vê nitidamente no que se transformou e finalmente senti o peso
do mundo sobre as suas costas. Suas pernas fraquejam, você despenca no sofá.
Aos poucos você percebe o sangue escorrendo diretamente do seu peito, vai
formando uma imensa mancha vermelha e quente, justo na sua blusa favorita. É
quando finalmente ele mais uma vez te olha e diz que senti muito e que não vai
sumir. Ele vai se levantando e colocando uma das mãos sobre seu ombro lhe
oferece um pouco de água.
O
velho sinal, é hora de partir. Em uma derradeira tentativa de sobrevivência
você pensa nos velhos amigos, na Júlia, talvez ela possa te ver, almoçar juntas
e desabar. Você levanta indo em direção à porta, olha obliquamente para ele e
passando os dedos na sua face carinhosamente diz adeus.
A
volta pra casa é cabulosa, até hoje você não se lembra como, naquele fatídico
inicio de tarde, você chegou em casa. Apenas acordou de banho tomado sobre o
colchão ainda molhado. No cesto da lavanderia você achou a blusa, coberta de
sangue, no seu corpo nenhum ferimento, na mente apenas uma dúvida, será que eu
matei alguém?
A
campainha toca, pelas sirenes deve ser a polícia.
Para Cu.
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