Por
algum tempo eu fiquei sem entrar no blog, mais agora postarei textos
semanalmente, to tendo problemas com este template (visual do blog) então assim
que achar um template que eu goste eu irei trocá-lo, espero que gostem deste
texto, que conta um pouco da vida de um senhor chamado João!
Eu queria ser poeta. Mais sou apenas um contador de historias.
E é assim dês de 1965..
João
sentado na praça, lendo o mesmo jornal todos os dias, desde 1965. João sentado
na praça, aquele velho esquisito que não conhece ninguém, aquela sombra no
banco, de terno cinza e gravata amarela, com a bengala de um lado e o chapéu do
outro.
Bico
de fumo na boca, tosses bravas e sabe-se lá há quantos anos ele já deveria ter
morrido de qualquer porcaria no pulmão.
Um
homem de meia idade passa, cumprimenta João com alguma coisa parecida com um
olhar desdenhoso atrás dos óculos escuros, enquanto passeia com o cachorro
pequeno e gordo, de coleira apertada.
João
pensa: Está começando a dieta hoje e o pobre do cão que aquente as pontas.
Dieta
por que? Porque semana passada a mulher o abandonara, estava com crise dos anos
dourados. Certamente, precisa do cachorro para não tropeçar em nada, já que o
sacrifício em deixar os óculos de grau em casa é grande demais para um velho
míope solteiro contra a própria vontade. João riu enquanto a figura sumia ao
longe.
Poxa,
ele gostaria de tê-lo conhecido. Mas não houve nem tempo para pensar o nome.
Uma linda mulher de cabelos presos aproximou-se, sentou-se, bebericou dois
goles d’água, e prosseguiu a caminhada. João abaixou o jornal, deu duas
olhadelas e riu novamente. Solteira há quinze dias depois de descobrir que o
namorado a condecorara com um belo par de chifres e escuta música alta no
celular de última geração para não escutar os gritos do próprio pensamento.
Cede aos apelos do corpo, mas nunca houve espaço para um carinho na alma.
Pobre, rica e linda senhorita… João gostaria de tê-la conhecido.
Aquela,
perto do carrinho de sorvete, é apaixonada por jogadores de futebol. E aquele
senhor adormecido na janela do ônibus? Ah, aquele serviu ao Exército, foi
marinheiro ou quem sabe rodou o mundo em quatro dias.
O
pipoqueiro sorri, mas queria ser palhaço. O palhaço, por sua vez, compra uma
garrafa da água para tomar com os antidepressivos. O pipoqueiro que é feliz,
apaixonado pela moça dos panfletos, que odeia pipoca e tem dois namorados.
O
rapaz de braço engessado olhando para o céu morre de medo de altura, mas sonha
em pular de para-quedas.
A
mocinha de olhos verdes que lê romance na sombra do grande carvalho subiu
demais e quer cair das nuvens. Pobres mocinhas e rapazes… Ah, pobres humanos,
pobres destinos, pobres diabos.
João
gostaria de tê-los conhecido. Mas não, João é um velho sentado na praça, lendo
o mesmo jornal desde 1965, porque as notícias são pessoas e pessoas não mudam.
João é só aquele idoso fumante que não conhece ninguém, lendo as mesmas pessoas,
criando novos roteiros.
João
é aquele velho, aquele velho sentado na praça, de terno cinza, soltando fumaça,
que habita vários mundos, que decora vários cheiros, que enfeita vários
olhares, que conhece várias histórias, mas nem sequer conhece a própria...
2 comentários:
Bem diferente seu blog parabéns
Muito bom o texto, Parabéns!
Como sempre criativo
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