Era
uma vez... uma garota dentro de um caminhão. Tinha um volante no horizonte e um
motor no coração. Ela não entendia o porquê que em sua vida lhe faltava
constância. Vivia cheia de liberdade, até que a ânsia nasceu. Não ânsia de
viver ou de se libertar. Era ânsia de paz, ânsia de ser um lar.
Fazia
paradas para vomitar. Sentia-se mareada só em sentir o cheiro do mar.
Lentamente, um mundo com um único habitante brotava em sua barriga bronzeada, sutilmente
uma vida se formava, deixando-a despedaçada. A vida lhe trazia medos, lágrimas
escorriam. Sua alma era viajante, não tinha outro dom. Percorria a vida
cantando sem perder o tom: Um passo sem pensar, um outro dia, um outro lugar.
Até
que um dia, seu corpo desabou um vento forte soprou e a bolsa estourou. Pode
não parecer, mas até que doeu. E então, um novo humano saiu e gemeu. Sim... agora
era mãe e um pai também. Sabia que para ela a vida não diria amém, a pequena
criança era bonita e tinha os olhos verdes. Viveria uma vida esquisita em meio
ao som do blues e do rock.
A
mãe não tinha cuidado, vivia em função de um ou outro namorado, gostava das
noitadas e de toda boemia. Gozava nas viradas de ano, e era só poesia. E quando
acabava, pedia mais, pedia mais, pedia mais.
Dizia
please. Mas bem lá no fundo, a verdade era que ela queria era bis.
E
o bebê sorria.
Sorria
com o sorriso de fotografia.
A
vida para ele, era festa e o sangue lhe fervia. Fizera oito anos e odiava
maresia, em uma noite sombria punha-se a rodar pelas ruas vazias do centro de
mais uma cidade desconhecida. Até que um dia, veio-lhe a fúria e a incomunal
rebeldia.
O
garoto fez a temível injúria para a vida que ruía. Fizera então, 15 anos e
cansara-se das noitadas à beira-mar. Deu adeus as namoradas e aos namorados, e
ao seu nômade lar.
A
vida lhe chamou e ele foi lá.
A
mãe o ignorou. Disse:
- Vai.
O
filho foi e lá voou.
Não
mais garota, em seu caminhão pôs-se a dormir. E, com um novo amante, a sorrir.
Até
que acabou-lhe a sorte.
A
Garota do Caminhão chegou em seu leito de morte.
Um
câncer lhe destruiu o coração em um só corte. Morreu abraçada a foto do filho
fugido.
E ele, no Triangulo
das Gerais, nunca soube que sua mãe tinha morrido.
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